Falar de saúde feminina vai muito além das campanhas de prevenção ao câncer de mama ou de colo de útero. A saúde mental da mulher é um tema cada vez mais discutido e que precisa ser abordado com a seriedade que o tema exige. Apesar de os dados indicarem um número quase igual entre homens e mulheres quanto o assunto envolve distúrbios mentais, os padrões de como tais doenças se manifestam indicam uma carga maior para elas.
A questão de gênero merece uma análise mais criteriosa justamente porque homens e mulheres contam com poder e controle diferentes sobre fatores socioeconômicos que podem contribuir para o estado da sua saúde mental, como posição social, status e o tratamento dado pela própria sociedade. Além disso, há a suscetibilidade a estar mais ou menos exposto a tais doenças.
Estas diferenças já podem ser observadas quando falamos de estatísticas dos distúrbios mentais mais comuns: depressão, ansiedade e sintomas físicos causados por problemas emocionais. Tais distúrbios afetam 1 em cada 3 pessoas e são observados predominantemente em mulheres. Homens são a maioria em doenças como alcoolismo e comportamento antissocial. As informações são da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Diferenças entre saúde mental da mulher e do homem
Além de serem mais suscetíveis a sofrerem de depressão, elas também têm maior probabilidade de acumularem mais de um distúrbio mental ao mesmo tempo. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos também observou que mulheres são mais suscetíveis a sofrerem de estresse pós-traumático – e costumam levar muito mais tempo do que os homens para buscar tratamento.
Para se ter uma ideia, homens costumam buscar ajuda cerca de um ano após a ocorrência de algum trauma, enquanto mulheres levam em média quatro anos. Além disso, a principal causa de estresse pós-traumático em mulheres são casos de violência sexual – o estigma em torno deste tipo de crime e a culpabilização da vítima ainda muito presente na sociedade são os principais fatores na demora da busca por assistência.
Outro distúrbio mais presente em mulheres e provocado por fatores sociais tem relação com a alimentação. Com uma cobrança exacerbada da mídia e de uma cultura que associa beleza a magreza, as mulheres são 10 vezes mais propensas a desenvolver algum tipo de distúrbio alimentar, como anorexia e bulimia.
O estigma em torno da saúde mental da mulher também é um fator que faz com que elas demorem para buscar assistência profissional. Um estudo da Northwestern University observou que mulheres se importam muito mais com a opinião e a aprovação dos outros do que os homens. O resultado disso, são mulheres que relutam em buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica com medo de que os outros irão desmoralizá-la de alguma forma.
A pandemia é um exemplo de como a carga mental recai de diferentes formas para homens e mulheres. Com a adaptação para o trabalho remoto e o cancelamento das aulas, recaiu sobre elas a maior parte da responsabilidade de cuidar da casa, do filho, das aulas remotas da escola e do próprio trabalho.
Um estudo da organização Care apontou que 27% das mulheres apontou estar sofrendo com distúrbios mentais causados pela pandemia, contra apenas 10% dos homens. A sobrecarga, intensificada pelo isolamento social, evidenciou outra diferença muito presente em lares de diversos países. Nos EUA, por exemplo, 55% das mulheres que trabalham fora são responsáveis pelos serviços domésticos, contra 18% dos homens.
Como se o acúmulo de tarefas não fosse o suficiente, no mundo inteiro a pandemia tem afetado mais os empregos das mulheres do que dos homens. Os índices variam bastante de país para país, mas em todos os casos as mulheres foram maioria no número de pessoas que perderam o emprego pela crise econômica desencadeada pela Covid-19.
Cuidados essenciais para a saúde mental da mulher
Apesar da complexidade que envolve a saúde mental da mulher e dos vários estigmas e pressões que ainda existem na sociedade, há muitas opções de tratamento e ajuda para que as mulheres consigam se cuidar psicologicamente. Não ter medo de pedir ajuda é o primeiro passo.
Dentre as opções de tratamento, existem médicos psiquiatras, psicólogos, enfermeiras capacitadas em saúde mental e profissionais de assistência social, que podem ajudar de forma preliminar. Tratamentos alternativos envolvem grupos de apoio e atendimento on-line para saúde mental.
Agir de forma preventiva ainda é a melhor forma de cuidar da mente. Conhecer a si própria, saber identificar as emoções, entender o que as causou e reconhecer quando é hora de buscar ajuda é fundamental para cuidar da saúde de dentro para fora. Ainda assim, há três fatores externos que interferem e bastante na saúde mental. São eles:
Prática de exercícios: atividades aeróbicas liberam endorfinas, que aliviam o estresse e promovem tranquilidade. A prática regular de exercícios físicos ajuda na qualidade do sono e também pode reduzir sintomas de ansiedade e depressão.
Alimentação balanceada: consumir alimentos saudáveis está associado a melhorar o humor das pessoas e a saúde de forma geral. Particularmente, evitar alimentos ricos em açúcar, que estão associados à sensação e cansaço e à irritabilidade quando os níveis de açúcar no sangue caem. Pesquisadores também recomendam que café e bebidas alcoólicas sejam consumidas com moderação. Além disso, algumas vitaminas e minerais, como selênio, ômega 3, vitamina B12, cálcio, erro e zinco também ajudam a diminuir sintomas de depressão.
Trabalhar com algo que goste: frequentemente os problemas psicológicos enfrentados pelas mulheres podem ser potencializados pelo ambiente onde ela trabalha. Uma mudança de emprego pode renovar o seu senso se propósito e aliviar alguns sintomas. Encarar uma nova carreira, com uma atividade que proporcione mais prazer e uma rotina menos estressante, também pode melhorar a saúde mental.
Além destas três medidas, algumas atitudes no dia a dia contribuem para a saúde mental, como a convivência com amigos e pessoas com uma influência positiva na vida da mulher, evitar fatores estressores, dormir bem e buscar um propósito. Saúde é um conceito que envolve tanto o exterior como o interior, e cuidar da mente é o primeiro passo para aproveitar a vida da forma que ela merece ser desfrutada.
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